Desde o momento da fissão do Self com o ego, que o eixo do equilíbrio ficou
fragmentado.
O esforço de crescimento intelecto-moral do ser humano deve ser o logro da
perfeita identificação desses dois arquétipos com a sua consequente fusão
harmônica proporcionadora do equilíbrio emocional.
Infelizmente, porém, remanescendo os instintos agressivos em predomínio na
psique humana, o ego assume a diretriz do comportamento, trazendo sempre à
tona os conflitos de insegurança, de insatisfação, de morbidez, que são
decorrência dos períodos ancestrais percorridos antes do surgimento das
emoções superiores.
Em razão dessa governança perturbadora o ego está sempre vigilante e
dominador, em luta contínua para manter-se, dominado pelo medo de perder a
posição de que desfruta.
Disfarçando-se com habilidade, torna-se agressivo, porque é receoso, exibe
as qualidades que não possui, exatamente para superar o complexo de
inferioridade para voos mais altos no conhecimento e na emoção,
atribuindo-se direitos e privilégios que teme lhe sejam retirados, pouco, no
entanto, preocupando-se com os deveres que lhe dizem respeito.
É o ego que se cerca de presunção e de avareza, de ciúme e de desfaçatez, de
suspeitas constantes e de censuras aos outros, de forma que não se torne
conhecido, permanecendo na obscuridade dos seus propósitos enfermiços.
Pode manifestar-se gentil com certa autenticidade, ocultando, porém,
interesses mesquinhos, quais os de autopromoção e de exibicionismo, reagindo
sempre quando não recebendo a resposta a que aspira nas suas artimanhas.
Faz-se, então, adversário soez e persistente de todos aqueles que lhe não
concedem o valor que se atribui, podendo tornar-se violento e insano.
Identificado, logo se permite exteriorizar todas as mazelas que lhe são
peculiares, tecendo redes de intrigas, fomentando a maledicência, pugnando
pela divisão dos grupos, quando então mais fácil se lhe torna o domínio.
O egoísmo é virose perigosa que ataca a sociedade contemporânea, qual
ocorreu em todas as épocas da história da humanidade.
Combatido pela ética e pela moral, tem sido motivo de cuidados especiais por
todas as doutrinas religiosas, especialmente pelo Cristianismo, que nele
encontra um perverso adversário da solidariedade, do amor e da lídima
caridade.
O Espiritismo, na sua condição de restaurador do pensamento de Jesus, tem,
no egoísmo, a condição de bafio pestilencial, que necessita de terapia
preventiva muito bem elaborada e tratamento persistente depois que se
encontra instalado.
Não ceder-se espaço ao egoísmo, sob qualquer forma em que se manifeste, deve
ser a atitude do cristão sincero, do espírita consciente das suas
responsabilidades.
Evitar agasalhá-lo em qualquer dos seus disfarces, é uma forma segura de
precatar-se da sua vigorosa constrição.
Não foram poucos os missionários do bem que se permitiram tombar nas
artimanhas nefastas do egoísmo, conforme hoje sucede em todos os segmentos
da sociedade.
O altruísmo, que lhe é oposto, constitui-lhe estímulo vigoroso para a união
do eixo psicológico fragmentado, fazendo que o bem e o mal encontrem a
emoção comum do amor que lhes é a meta a conquistar.
Das nascentes do ser brotam as emoções, a princípio violentas, como
resultado das experiências afligentes, tornando-se, a pouco e pouco,
equilibradas e propiciadoras de felicidade.
Na razão direta em que o Espírito desabrocha a consciência e a perfeita
lucidez em torno dos objetivos essenciais da sua existência na Terra, o
egoísmo vai-se diluindo e cedendo lugar à solidariedade, por facultar a
vivência das emoções mais elevadas, aquelas que santificam o ser no
exercício da lídima caridade.
Passa a reconhecer o seu real valor de aprendiz da vida, facultando-se a
solidariedade de que necessita, a fim de mais amplamente penetrar nas razões
profundas do existir.
Não se jacta, nem se subestima, permanecendo identificado com a realidade
que o cerca e procurando alcançar os patamares mais nobres da evolução.
A humildade surge-lhe naturalmente enquanto compreende a grandeza da vida e
o seu papel de cooperador na obra magnífica da Criação.
A alegria de viver adorna-o, dando-lhe um suave encantamento em tudo quanto
faz e sente, porque se reconhece membro efetivo do conjunto universal.
Enquanto se atormenta nas sensações do medo, da incerteza e das suspeitas, a
prepotência alucina-o, porém, quando percebe que a sua segurança encontra-se
no ser e não no poder, nos valores internos e não nas aquisições de fora,
passa automaticamente para os comportamentos pacíficos e pacificadores.
Colocando-se a serviço do Bem, é dúctil à verdade e ao dever, não elegendo
postos nem lugares de destaque, mas dispondo-se a trabalhar em qualquer
setor em que seja colocado, aí dando mostras da felicidade de produzir.
Jesus, na carpintaria de Seu pai, aprendeu o ofício modesto e o exerceu,
quando era possuidor do conhecimento universal.
Podendo expressar a Sua mensagem com o verbo profundo e complexo que
decifrasse os enigmas do universo, optou pela singeleza e poesia da
linguagem do povo modesto, compondo poemas insuperáveis com os grãos de
mostarda, peixes e pães, semeadura e sega, redes e moedas, ovelhas e azeite,
ultrapassando todos os pensadores do passado e mesmo do futuro.
Ninguém falou com a destreza e magia com que Ele narrou as maravilhas do Seu
reino, estimulou os alquebrados a levantar-se e prosseguir, amparou os
tíbios e os fortaleceu, recuperou os perdidos e mortos, dando-lhes
significados existenciais.
Enfrentou o farisaísmo com sabedoria, mas sem presunção, embaraçou os
jactanciosos não os humilhando, e pairou acima do biótipo comum pela
grandeza de que era portador, não em decorrência de homenagens e honrarias
mentirosas.
Recebeu com naturalidade o carinho e o destaque merecido, através das
lágrimas de uma mulher recuperada do processo obsessivo e destacou que,
naquele gesto, ela o embalsamava por antecipação...
A honraria foi maior para aquela que lhe beijou e ungiu com perfume os pés
do que Ele próprio...
...E, no entanto, é o Rei Solar!
Recorda-te que a pérola pálida e preciosa é uma defesa do organismo da ostra
à agressividade do grão de areia no seu organismo. Silenciosa e
continuamente, o animálculo envolve o invasor na exsudação da sua mucosa
ferida e abençoa-o com deslumbrante beleza.
A humildade realiza o mesmo, quando o egoísmo tenta espezinhá-la, submetê-la
e destruí-la.
Examina as nascentes da alma e extirpa o egoísmo no seu nascedouro,
trabalhando sem cansaço pela tua ascensão na obra de amor que tens pela
frente, mantendo-te altruísta e solidário em tudo.
Com esse poder defluente do esforço de ser melhor, alcançarás a emoção
afetuosa da alegria de autossuperação das tendências infelizes, logrando as
bênçãos da verdadeira fraternidade.
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