Por
que aceitamos,por que nós seguimos?Seguimos a autoridade do outro,a
experiência do outro e,então,duvidamos dela;esta busca pela
autoridade e sua sequência,desilusão,é um processo doloroso para a
maioria de nós.Nós maldizemos ou criticamos a autoridade uma vez
aceita,o líder,o mestre,mas não examinamos nosso próprio anseio por
uma autoridade que possa dirigir nossa conduta.Uma vez que
compreendemos este anseio,compreenderemos a significação da dúvida.
A
autoconsciência é trabalhosa,e desde que a maioria de nós prefere um
modo fácil, ilusório,nós criamos a autoridade que dá forma e padrão à
nossa vida.Esta autoridade pode ser o coletivo,o Estado;ou pode ser o
pessoal,o mestre,o salvador,o guru.A autoridade de qualquer espécie
é ofuscante,ela traz negligência;e como a maioria de nós considera
que ser reflexivo é ter dor,nos entregamos à autoridade.A autoridade
engendra poder,e o poder sempre se torna centralizador
e,portanto,completamente corruptor;ele corrompe não só o manipulador do
poder,mas
também aquele que o segue.A autoridade do conhecimento e da
experiência é perversora,esteja investida no mestre,seu representante
ou o sacerdote.É sua própria vida,este conflito aparentemente
infindável,que é significativa, e não o padrão ou o líder.A autoridade
do mestre e o sacerdote afastam você do ponto central,que é o conflito
dentro de você mesmo.
Nós
ouvimos com esperança e medo;buscamos a luz do outro mas não estamos
alertamente passivos para sermos capazes de compreender.Se o liberado
parece preencher nossos desejos,nós o aceitamos;se não,continuamos
nossa busca por aquele que o fará;o que a maioria de nós deseja é
gratificação em diferentes níveis.O importante não é como reconhecer
aquele que é iluminado mas como compreender a você mesmo.Nenhuma
autoridade aqui ou lá adiante pode lhe dar conhecimento de si mesmo;sem
autoconhecimento não há libertação da ignorância,do sofrimento.
A
maioria de nós está satisfeita com a autoridade porque ela nos dá uma
continuidade,uma certeza,uma sensação de se estar protegido.Mas um
homem que queira compreender as implicações desta profunda revolução
psicológica deve estar livre da autoridade,não deve?Ele não pode
considerar nenhuma autoridade,seja de sua própria criação ou imposta a
ele por outro.E isto é possível?É possível para mim não confiar na
autoridade de minha própria experiência?Mesmo quando rejeitei todas as
expressões exteriores de autoridade –
livros,professores,sacerdotes,igrejas, crenças - ainda tenho o
sentimento de que ao menos posso
confiar em meu próprio julgamento,em minhas próprias experiências,em
minha própria análise.Mas posso eu confiar em minha experiência,meu
julgamento,minha análise?
Minha experiência é o resultado de meu
condicionamento,não é?Eu posso ter sido criado como muçulmano ou
budista ou hindu,e minha experiência dependerá de minha base cultural,
econômica,social e religiosa,assim como a sua.E posso eu confiar
nisso?Posso confiar como meu guia,como esperança,como a visão que me
dará fé em meu próprio julgamento,que novamente é o resultado de
memórias acumuladas,experiências,o condicionamento do passado se
encontrando com o presente?Ora,quando me fiz todas estas perguntas e
estou consciente deste problema,vejo que só pode haver um estado no
qual realidade,inovação,pode surgir,que gera uma revolução.Esse
estado existe quando a mente está completamente vazia do passado,quando
não existe analista,nem experiência,nem julgamento,nem autoridade de
qualquer tipo.
A
mudança acontece quando não existe medo,quando não existe nem
experimentador nem experiência;só então acontece a revolução que está
além do tempo.Mas isso não pode acontecer enquanto estou tentando mudar
o “eu”, enquanto estou tentando mudar o que é em outra coisa.Eu sou o
resultado de todas as compulsões,persuasões sociais e espirituais,e de
todo o condicionamento baseado na ambição – meu pensamento se baseia
nisso.Para me libertar desse condicionamento,dessa ambição,eu digo a
mim mesmo:“Eu não devo ser ambicioso; devo praticar a não-ambição”.Mas
tal ação está,ainda,dentro do campo do tempo,é ainda a atividade da
mente.Apenas veja isso.Não diga:“Como vou chegar nesse estado onde
sou não-ambicioso?”Isso não é importante.Não é importante ser
não-ambicioso;o importante é compreender que a mente que está tentando
sair de um estado para outro está ainda funcionando dentro do campo do
tempo,e portanto, não há revolução,não há mudança.Se você quiser,realmente,compreender isto,então a semente dessa revolução radical já
foi plantada e isso vai operar:você não tem nada a fazer.
Krishnamurti
(Fonte:The Book of Life)
(www.jkrishnamurti.org/pt)
Namastê
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