quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

A gente ainda pode ser feliz


É incrível, mas a gente ainda pode um monte de coisas, inclusive ficar sem planejar nada, sem projetar um futuro bonito e sem ocupar nossa mente com invenções típicas da maioridade responsável.

A gente pode se desobrigar ser tão perfeito, impactante, brilhante e definitivo nas nossas realizações.

A gente pode ser apenas normal.

A gente ainda pode repetir a música e tentar aprender a letra. Retomar o afeto e conversar longamente sobre coisas suaves. 

Se necessário for, a gente pode fazer um esforço e não perder o caminho, para que não cause prejuízo aos nossos pés. 

A gente pode drenar a culpa que nos impede a ousadia de deixar a língua solta para declarar todo sentimento que ficou suprimido. 

É.A gente pode fazer isso, livremente, com alegria de quem revelou um segredo íntimo para alguém que sabe acolher. 

A gente pode deixar que as mágoas se dissolvam nos diálogos mais íntimos. Assim teremos resolvido todas as pendências, a porta da geladeira agradecerá a ausência de uma lista de tarefas, o diário não será mais um recipiente de amarguras e o riso voltará livremente morar na nossa face. Pode apostar que a gente ainda pode reverter os guardados em poemas, por ter obrigado a silenciosa covardia, revelar seus desejos. 


A gente ainda pode num último impulso deixar de ser apático e previsível e colher flores à beira da calçada, sem sequer ter um destinatário para elas. Respirar fundo e dizer todos os engasgados sem culpa. 

A gente pode inclusive deixar de reler o capítulo infeliz do dia anterior e escrever o próximo sem medo ou angústia. Por mais que pareça difícil a gente ainda pode acreditar no dia seguinte após um gole de café forte e uma pisada firme na vida. 

A gente ainda pode continuar colecionando incertezas e sofrer com as dúvidas ou apostar na capacidade de lamber o dedo e virar a página. Não é tarde para a gente fazer um monte de coisas, por isso a gente ainda pode aceitar os convites para sair do casulo, enfrentar todas as chuvas, rever a história sem cortes, engolir as desculpas, dar novos passos. 


A gente ainda pode tentar. A gente ainda pode inventar. A gente ainda pode insistir. 

A gente ainda pode entender as perguntas, os sinais, a direção, a canção, o poema, o coração. 


A gente ainda deve escancarar a liberdade, dizer o que sente, retirar os clichês, enfrentar o medo e tomar a segunda dose de afeto.

 A gente ainda pode com o amor.

Por Ita Portugal

Amor,Luz e Paz

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